Lições

Por Vanessa Damasceno

A cada dia que nasce
Em todo sol que ilumina
Novas lições eu aprendo
No passar de tantos dias

Aprendi quando pequena
Que a vida só vale a pena
Se tivermos o amor
Descobri, bem relutante,
Que não escapamos da dor

Vislumbrei que a riqueza
Se resume bem na mesa
Que reúno na tristeza

Conclui atrapalhada
Que a vida só é quadrada
Para quem dela
Não faz nada

Calculei que a nobreza
Independe da riqueza
E que há sempre mais verdade
Se tiver boa vontade

Eu já sei o pagamento
De quem vive a bondade
Não é só um juramento,
Se traduz: felicidade.

Entre o amor e a arte

Por Vanessa Damasceno

Eu poderia cravar na caverna a tua imagem
Objeto máximo do meu desejo
Onde primitivamente eu me entregaria
E em teus braços, brutalmente, sofreria.

Mas creio
Que me faltam uns adornos egípcios
Para atrair o teu olhar
Talvez tu sejas uma esfinge
Pedindo, sorrateira, para eu te decifrar
Ou talvez, audaciosa, torcendo para me devorar

E em tempos de amores coloridos e vibrantes
Surgiste como uma ventania greco-romana
Clássica, perfeita, extremamente bela

Então, venha, venha
Para a arena do meu coração
Digladiar com sentimentos mortos pelo chão

E quando renascerem,
Esculpirei para sempre em mim
As expressões teatrais do drama

Depois, na comédia que é a vida,
Colorirei tudo com confusas pinceladas
Tornarei assim nosso amor
Puro abstracionismo
Sem compreensão
Para aqueles que vivem sem paixão.

Leilão de Jardim

 

Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?

Borboletas de muitas cores

Lavadeiras e passarinhos

ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?

Quem me compra um raio de sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,

uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?

E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a sua canção?

E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão!)